O
objetivo deste trabalho é fazer algumas
considerações sobre Jesus
enquanto o Caminho,
a Verdade
e a Vida.
Serão
usadas como
provocação
ao presente raciocínio as páginas
71 – 73 do
livro texto “Teologia Sistemática III” (Cristologia e
Escatologia) de Marcos Orison Nunes de Almeida, professor da
disciplina na Faculdade Teológica Sul Americana.
O texto a seguir é uma versão ampliada da resposta deste
autor
a uma atividade de teologia sistemática denominada FÓRUM
2 – SEMANA 2 – TEOLOGIA SISTEMÁTICA III.
Assim,
como mencionado acima, uma vez que se refere a discorrer sobre O
Caminho, a Verdade
e
a Vida enquanto
reportando-se
a Jesus se apresentando dessa forma, nada mais coerente do que
começar com uma citação da própria bíblia para introduzir o
assunto. Eia pois, aos versículos:
João
14.6
5.Indagou-lhe
Tomé: “Senhor, não sabemos para onde vais; e como poderemos
conhecer o caminho?”
6.Assegurou-lhes
Jesus: “Eu Sou o
Caminho, a Verdade e a Vida.
Ninguém vem ao Pai senão por mim. 7.Se
vós, de fato, tivésseis me conhecido, teríeis conhecido também a
meu Pai; e desde agora vós o conheceis e o vistes.”(grifei)
Certamente
você conhece os versículos acima. Quando as pessoas estão sem rumo
este trecho bíblico traz um alento muito grande. Ao menos o é para
os cristãos. Principalmente o versículo 6 onde Jesus afirma que é
três elementos de que todos precisam fundamentalmente, quais sejam,
Caminho, Verdade e Vida.
Jesus
enquanto caminho é aquele pelo meio do qual se pode percorrer
com toda a segurança. Não há a menor possibilidade de você se
perder se seguir por ele. Algumas vezes as pessoas percorrem uma
rodovia, rua ou avenida em localidades que não conhece e de repente
se depara com uma bifurcação. Muitas vezes a sinalização é
confusa e a pessoa acaba fazendo a escolha errada. Então, segue a
toda pressa, para alguns quilômetros adiante se dar conta de que
está perdida e o ponto onde queria chegar não será alcançado.
Agora,
observe o início do versículo 6, e veja que na versão escolhida
(King James) a palavra usada é Assegurou-lhes.
A versão é adequada para o assunto em questão. Primeiro porque a
palavra transmite confiança total, segundo, porque o verbo está
julgado no pretérito perfeito, dirigido a mais de uma pessoa. Ou
seja, demonstra uma atitude irretocável e completa e ao mesmo tempo
de alcance universal. A garantia que Jesus dá não se restringe a
uma pessoa ou grupo, bem como não é garantia para o futuro, mas e
sim uma garantia instituída para sempre, e desde já. Porque Jesus
é o caminho, quem nele se encontra pode fechar os olhos e seguir.
Jesus
também nos assegura que ele é a Vida. Jesus como a vida faz
parte da garantia que ele nos dá por ser o caminho. Quem quiser
chegar à vida não pode buscar outra via que não seja Jesus. E a vida é tão importante que os professores de direito,
sobretudo os que lecionam sobre os direitos humanos afirmam com toda
razão que a vida é a causa e objetivo de todos os outros direitos.
Sem o direito à vida os demais direitos não têm sentido.
De
nada adiantaria o direito à propriedade se não houvesse garantia
para a vida desfrutar, de nada adiantaria o direito de ir e vir se a
vida não fosse protegida para se locomover, de nada adiantaria o
direito à liberdade de pensamento e expressão se não houvesse uma
vida para os defender, para se manifestar.
Em
que pese ter o mesmo princípio a vida a que Jesus se refere é a
vida perpétua, eterna, e esse direito ele conquistou para todos
quantos queiram, quando deu a sua própria em resgate da humanidade.
Não há ato de exemplo mais humano do que a autoentrega de Jesus na
cruz. É por meio de sua morte que todos os bens eternos criados por
Deus reservados aos herdeiros da vida eterna passam a fazer sentido.
Sem a vida eterna o céu eterno não vale a pena. Talvez, Deus nem o
teria criado. Assim como Deus criou o mundo para o homem natural
desfrutar por meio da vida garantida pelo direito, também criou
maravilhas narradas no livro de apocalipse para um desfrute eterno.
Agora, se não houvesse vida eterna, não haveria interesse em que as
maravilhas narradas na bíblia fossem relatadas aos seres humanos.
E
Jesus sendo o Caminho e a Vida, isso tudo
pode e deve ser acreditado porque é Verdade. E por falar em
verdade, vamos ao segundo elemento, que estrategicamente deixamos
para o final. Para tanto, observe um trecho do diálogo entre Jesus e
Pilatos:
37.
Perguntou-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Respondeu Jesus: Tu
dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a
fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve
a minha voz. 38. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? E dito
isto, de novo saiu a ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele
crime algum (grifei).
Talvez esse seja o maior enigma filosófico para o homem resolver, Que é a verdade?. Desde muito tempo os chamados pensadores vêm discursando sobre o assunto. Pilatos fez uma pergunta retórica, diante da Verdade, ninguém sairia ignorante. E aí é que está o problema. Existe certa ditadura do conhecimento. Os que pensam possuir o tal conhecimento não admitem soluções aparentemente simples. Por esse motivo, certamente este artigo encontrará muitas críticas e refutações. Esclarecido está de antemão que a ideia não é ditar uma solução, é melhor ainda, é lançar uma provocação para que o leitor crie sua própria forma de pensar a respeito do que é a verdade, e propriamente a Verdade.
Pois
bem, finalmente
usemos algumas citações do
texto base para este artigo. Nele o autor
inicia por despertar o leitor para uma reflexão a respeito da
verdade
atingindo
em cheio o discurso fácil que se formou na “tradição”
evangélica ao longo dos anos. No trecho, Tradicionalmente,
no meio evangélico, a principal interpretação da expressão
“verdade” tem sido feita com base em uma perspectiva reducionista
como algo que é oposto a mentira
(pg. 71, grifei). Aqui
o
autor traz a
lume
o fato de que a visão maniqueísta do certo/errado,
bem/mal/ céu/inferno, Deus/Diabo não
é a forma final na definição da verdade. Como diria Shakespeare,
existe
muito mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que a nossa vã
filosofia.
A verdade não é uma mera oposição à mentira, nisso há de
se
concordar. Até porque, tal ideia reduziria demais o real significado
de um termo carregado de tanto simbolismo.
Outro
trecho interessante a se considerar é o seguinte: “Talvez
esteja presente ainda uma interpretação dualista da realidade em
que tudo se apresenta como dividido entre Deus e o diabo” (pg.
71). Aqui, reside o erro das pessoas que associam o pertencimento a
Deus, de quem fala a verdade, e ao Diabo de quem diz a mentira.
O
texto realça o uso que se faz de versículos bíblicos para embasar
tal pensamento sobretudo João 8.44. Neste ponto está implícito que
deve ser levado em consideração que nem sempre quem diz a verdade
quer alguma coisa com Deus, ou acredita em Deus, de modo que de
acordo com a fé cristã, mesmo dizendo a verdade não significa que
a pessoa pertence a Deus. O texto leva-nos a entender que falar a
verdade é diferente de viver na verdade. Diz-se a verdade para se
ter credibilidade junto aos pares e até diante de desconhecidos. Ao
passo que viver na verdade é comportar-se de forma a convencer de
que o que se prega é de fato o que se sente, independentemente de
quem nos observa ou avalia. É verdade que o versículo de João 8.44
diz que o diabo fala daquilo sobre que detém a paternidade, a
mentira. Certo é que quem ama a mentira tem tudo de demoníaco, mas,
dizer a verdade sem compromisso com ela, tem quase nada de Deus.
A
verdade sendo maior que uma proclamação verbal é a manifestação
exterior em forma de comportamento que reflete o que se pretendeu
dizer. O destaque
negativo ou ponto
fraco no texto base
é
encontrado nas seguintes afirmações (pg. 72) A
fé e a teologia ficaram aprisionadas a sistemas teológicos exatos e
controlados, que a tudo respondem e explicam.
E
ainda:
“O
resultado disso para a teologia foi que a verdade ficou refém desse
estado de mente. A verdade passou a ser aquilo que é explicado por
uma proposição ou um discurso correto elaborado pela teologia. O
grande problema é que não existe uma única teologia ou um único
discurso. A maior prova disso é a assustadora
variedade de denominações
e correntes teológicas que defendem ser representantes fiéis de
Deus no mundo”.(grifei).
A
citação acima foi feita com o objetivo de localizar você, leitor, bem
como mostrar que existem contrapontos a se considerar. No caso, não
se deve concordar com autor da citação supra, pois, em que pese a
verdade não habitar apenas o discurso e nem apenas um discurso, não
quer dizer que existem duas ou mais verdades. Não é com base em verdades
diferentes que as denominações religiosas surgem, mas nas
diferenças dogmáticas e doutrinárias encontradas por
interpretações divergentes de um mesmo texto por um mesmo grupo que se divide depois. Por sua vez a verdade é
sempre a mesma. Claro está que dizer-se dono da verdade a partir de
um discurso é o mesmo que chamar alguém de preconceituoso pelo
simples fato desse alguém não pensar igual ou não adotar o mesmo
discurso.
Em
continuidade,
é necessário ser conclusivo na manifestação a respeito do verbete
em comento, e
nada
se
faz tão
oportuno
do que lançar mão da citação a seguir: O
logos encarnado é, então, cheio de verdade, pois, é a expressão
da única fonte de existência, afinal todo o resto é criado
(pg. 73). Quando se fala da verdade, buscamos o convencimento de
alguém por meio de um testemunho, o
que envolve trazer a baila tudo o que existe a respeito de um
acontecimento. Do contrário o testemunho poderá ser falso, ou
mentiroso. É mentir falar o que não é verdade e é omitir não
falar o que é verdade. Veja que a diferença entre mentira e omissão
é a localização da palavra não. Em ambos os casos demonstra-se
deficiência de caráter.
E
Logos é exatamente um discurso, um
testemunho.
No caso de Jesus, é o discurso, o
testemunho sobre Deus e seus negócios, por assim dizer.
Logos em
grego, verbo
em português é tudo sobre Deus, sem exageros porque não precisa, sem omissão porque diminuiria a ideia sobre ELE. Verbo é palavra que expressa uma, ação; fato;
fenômeno; estado. O Logos
é a razão única da teologia. Dizer que não existe apenas uma
teologia é o meso que dizer que existe mais de um deus, quando na
verdade só existe Deus. Teologia
é discurso sobre Deus. Por isso, teologia que se prese tem
compromisso com a verdade.
Em
função disso,
dizer
que existem várias verdades é como dizer que existem várias
realidades. O que é definitivamente falso.
Se
há um fato, uma ação, um fenômeno, um estado, e há, todos esses
elementos se referem ao Ser de Deus. O
resto
é consequência da
existência desse Ser incluindo a nós os seres humanos. Nós não
viemos por nos mesmos, somos consequência de sua ação.
Como
se disse anteriormente, a simples oposição com a mentira faz com
que a verdade fique menor do que realmente é. Aliás, aletheia
(verdade) é a mesma palavra grega
que
se usa para dizer realidade. Discordando
um pouco do nosso
autor
base,
não
existem duas verdades, porque falar
a verdade é portanto, falar do que existe, ou seja, é fazer uma
manifestação comportamental materializando a plenitude de
significado do que se diz. É sair do mundo ideal, do que se deseja,
do que se pensa, do que se planeja, do que se sonha, para ser, para
existir, para estar no mundo, no mundo de Deus, porque a verdade
basta por si, a mentira é criada sob
artificialidade,
carece de argumentos e
esforços.
O
real não é apenas o que se vê, mas, é aquilo que não ilude. Não
o que se quer ver, mas, o que existe de fato e
de direito. O que há de real não contém nada por trás. Portanto,
pode ser examinado a qualquer tempo e por qualquer método. A verdade
não precisa de articulação. Quem sabe da verdade apenas conta o
que sabe.
Assim
sendo, Jesus a verdade
é
a plenitude do que se deseja conhecer porque é real e por isso mesmo
é a luz de Deus que é a existência, que é a verdade e dá
liberdade, que
desfaz a ilusão. Diante
do exposto, nunca se deve fazer uma pergunta do tipo: qual é a
verdade? Essa pergunta está errada, pois denota a crença na
existência de duas verdades. Se duas ou mais pessoas têm versões
conflitantes, logo alguém está fora da verdade.
ALFONSO,
Sergio Aparecido. Resposta
ao fórum
2. FÓRUM
2 – SEMANA 2 – TEOLOGIA SISTEMÁTICA III.
Disponível em:
http://www.teologiaonline.com.br/v3/mod/forum/user.php?id=1384&page=3.
Acesso em 18 jan. 2016.
ALMEIDA,
Marcos Orison Nunes. Teologia Sistemática III: cristologia e
escatologia. Londrina: FTSA, 2014. Disponível em
file:///C:/Users/mppr/Downloads/apostila_sist3.pdf.
Acesso em 18 de jan. 2016.
Imagem:
Disponível em https://imagensbiblicas.wordpress.com/tag/pilatos/.
Acesso em 18 de jan. de 2016.
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